Vale
prevê fim das minas de Parauapebas até 2038, aponta relatório
Nos últimos 20 anos, prefeitura recebeu quase R$ 22 bilhões, mas não conseguiu se livrar da dependência da mineradora e da atividade de lavra que ela executa na Serra Norte de Carajás
“O atual plano de vida útil da mina vai de 2023 a 2038.” É com essa frase lacônica que a mineradora multinacional Vale profetiza o fim da atividade da extração de minério de ferro na Serra Norte de Carajás, porção do complexo mineral mais famoso do mundo situado dentro dos limites do município de Parauapebas.
A
informação foi levantada com exclusividade pelo Blog Sol do Carajás e consta do
novíssimo Relatório Anual que a empresa depositou esta semana na Comissão de
Valores Mobiliários dos Estados Unidos, detalhando, em 240 páginas, o estado de
coisas de suas operações no Brasil e no mundo.
Mas
calma: o fim das minas de Parauapebas não significa, nem de longe, o fim de
Parauapebas em si, embora este só sobreviva hoje por causa da atividade
praticada naquelas, e aquelas por causa do solo deste. Segundo a Vale, mesmo
com a abertura de novas áreas de lavra para extração nos corpos minerais N1, N2
e N3, dará para esticar a vida útil da mineração de ferro no município até, no
máximo, 2045. É que esses corpos, juntos, têm menos minério que N4, por
exemplo, que está em atividade desde 1984.
Prioridade da Vale é Canaã
Não é de hoje que o município vem sendo avisado sobre o fim de sua atividade mineral, por meio de publicações em portais de notícias como Pebinha de Açúcar, Zé Dudu e aqui mesmo neste Sol do Carajás. Vários trabalhos acadêmicos vêm sendo produzidos sobre isso, mas o município segue alheio aos fatos, dando milho aos pombos. E ainda há céticos e charlatães intelectuais que tentam desconversar, desvirtuar ou minimizar os alertas.
Hoje, a
prioridade da Vale é a mina de Serra Sul, nos domínios do município de Canaã
dos Carajás, onde há mais minério medido, provado e provável de encontrar. A
prioridade a Canaã é tamanha que o valor contábil — inclusive instalações e
equipamentos associados — do complexo mineração da Serra Sul superou a Serra
Norte: a mina de Canaã, com apenas 7 anos de idade, valia, em 31 de dezembro de
2023, cerca de 4,742 bilhões de dólares (R$ 24,66 bilhões a preços de hoje), ao
passo que a mina de Parauapebas, com 40 anos, valia em torno de 3,225 bilhões
de dólares (R$ 16,77 bilhões).
Parauapebas depende da Vale
Tire a Vale do município de Parauapebas e pague para ver o que acontece. Às vésperas de seus 36 anos de emancipação, a Capital do Minério não conseguiu se tornar independente da mineradora, que está circulando por terras paraenses desde o final da década de 60, com várias roupagens.
Sem
Parauapebas, a Vale continuará a ser Vale, especialmente pelo que vislumbra em
terras vizinhas que emanam pão e mel de minério de ferro. No entanto, sem a
Vale, há dúvidas se Parauapebas continuará a ser a Parauapebas rica e pujante que
se conhece hoje, à sombra de fontes robustas de dinheiro vivo, como a
Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem) e o Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), receitas que, também, hão de
perecer a cada vez que a mineração der passos para trás prenunciando seu
apocalíptico fim.
Arrecadação a mais de 1.000%
Em 20 anos, entre 1º de janeiro de 2005 até dia 15 de abril deste ano, a Prefeitura de Parauapebas viu entrar nos cofres do município R$ 21,875 bilhões. No longínquo ano de 2005, quando a população era de apenas 92 mil habitantes, a receita líquida da Capital do Minério foi de somente R$ 202,67 milhões. Já em 2023, quando cravou 267 mil moradores e ultrapassou Marabá em população, a receita chegou a R$ 2,56 bilhões. Em termos proporcionais, enquanto a população aumentou 190% no período, o que não é pouco, a receita explodiu 1.163%, com pico de arrecadação em 2021, quando atingiu R$ 2,798 bilhões, cifra que dificilmente será alcançada daqui para frente.
Um dia,
lá no futuro, quando e se as reservas minerais da Serra Norte de Carajás findarem,
pela intensidade com que a Vale retira e esgota os recursos do município, ou
mesmo quando e se a multinacional perder o interesse pelo produto de
Parauapebas em razão de outras potencialidades econômicas comercialmente mais
viáveis e ou ecologicamente sustentáveis, todos esses números robustos vão
ficar no imaginário de um passado bom e próspero que, no entanto, não soube
preparar o futuro. A conferir.
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