Em 2004, Maurício Dias, colunista da revista Carta Capital, lançou um livro intitulado “A Mentira das Urnas”. Nele o autor faz uma profunda análise do processo eleitoral brasileiro mostrando sua dualidade: se por um lado é um processo que confirma e consolida nossa democracia, por outro, com as práticas de financiamento de campanha, alimenta e fortalece a corrupção.
Ele resume toda sua tese na seguinte frase: “A prestação de contas é enviada à Justiça Eleitoral que finge acreditar nos números. É a ‘beatificação do ilícito’ como dizia o ex-ministro da Justiça Paulo Brossard”.
Lembremos que esse livro foi escrito em um contexto onde empresas podiam financiar campanhas de seus candidatos prediletos. Hoje, como se sabe, as doações estão restritas a pessoas físicas.
Eu imaginei, confesso que ingenuamente, que poucos seriam os candidatos que teriam coragem de, desculpem o termo, aloprar em suas campanhas.
Passado as eleições e constatado que nenhum candidato havia se intimidado com as novas regras, imaginei, ainda ingenuamente, que poucos teriam suas contas de campanha aprovadas, seria um escândalo se fossem.
E contra todas as minhas ingênuas previsões, todas as contas de campanhas dos candidatos eleitos foram aprovadas. Tem eleito que declarou ter gasto R$ 6.760,00 (seis mil setecentos e sessenta reais) em sua campanha.
Pausa para gargalhadas!
A frase de Paulo Brossard, que aprovação das contas de campanha é a beatificação do ilícito, já não serve mais para os dias atuais, em especial Parauapebas. Não é mais uma mera irregularidade ou ilícito, é puro escracho.
Qual ser vivo acredita que um candidato eleito para a nossa Câmara Municipal tenha gasto menos de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais)?
Os abusos de poder econômico e compras de votos é de conhecimento público: os eleitores sabem, os candidatos sabem uns dos outros, os porcos e galinhas sabem, os jumentos sabem, até mesmo as árvores parecem ter consciência do que se passa em nossa cidade.
Diante de tão revoltante falta de respeito com os cidadãos, pus-me a pensar: será que os candidatos pensam que somos idiotas ao declararem aqueles gastos?
Mas a conclusão a que chego é bem mais inquietante: não são os candidatos que pensam, é a Justiça Eleitoral que tem certeza que somos idiotas.
Se acaso fosse diferente, jamais teriam aceitos que candidatos a vereadores que tiveram campanhas maiores que a de prefeitos declarassem gastos menores que R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) sem qualquer tipo de confirmação ou investigação.
Será que não seria hora do Ministério Público propor mais um TAC entre Justiça Eleitoral e candidatos? Ao menos para manter as aparências.
É um escárnio!
Vejam com seus próprios olhos (Leia no Portal Canaã):
Marco Atílio - Analista Político para o Blog Sol do Carajás
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