Há um ano a presidente Dilma Rousseff era afastada do cargo (a princípio temporariamente e que logo se tornaria definitivo) e Michel Temer assumia o controle político do país. Começava uma “nova era”, um novo governo que seria responsável pela transição do país até as eleições em 2018, além de recolocar as bases econômicas de volta aos trilhos.
A operação Lava Jato continuou e com elas as diversas denúncias contra membros do novo governo. Temer chegou a ter nove ministros investigados com contundentes acusações. Segundo o presidente os que estavam nesta condição só seriam afastados caso virassem réus (o que ainda não ocorreu). O discurso oficial do Palácio do Planalto era que as investigações seriam blindadas e livres, ou seja, sem intervenção nos bastidores. O que se viu foi o contrário (sendo confirmado agora), o governo (incluindo a sua peça central) sempre articularam para “estacar” a operação Lava Jato (como preconizou o senador Romero Jucá, meses antes em uma gravação telefônica).
Até o início desta semana as investigações (o que era divulgado e repassado a grande mídia) continuavam territorializadas, ou seja, limitadas a grupos e partidos. A delação do grupo JBS, dos irmãos Wesley e Joesley Batista, redefiniu os limites investigativos, ampliando as ações da Polícia Federal e tornando público suspeitas sobre algumas figuras públicas. A bomba explodiu nos colos do presidente Michel Temer e do senador Aécio Neves (PSDB).
O paulista por ter sido conivente com diversas ilicitudes, entre elas obstrução da Justiça (ação clara capitada através de áudios pela gravação) o do mineiro é bem pior. Além do fragrante do recebimento de dinheiro vivo há clara exposição da intenção de homicídio em áudio. Essa operação foi desencadeada por outro grupo dentro da operação, nenhum de Curitiba, diga-se de passagem.
Aécio Neves foi afastado do mandato de senador. Inexplicavelmente não foi preso e nem deverá ser. Temer decidiu não renunciar. Ficará no cargo até o final, segundo ele. Ele sabe que o seu governo não tem condição política de continuar. A base no Congresso ameaça deixar o governo. A pressão popular, o movimento de rua, as manifestações serão o termômetro da sustentação do governo. As movimentações sociais dos próximos dias serão fundamentais para a queda de Temer.
A permanência do presidente e de seus auxiliares diretos, neste caso, seus ministros, ocorre porque sabem que precisam do cargo para se manterem “protegidos” dentro do foro privilegiado. Sem isso, tornam-se mais acessíveis “as garras” do judiciário. A situação política se agrava e com ela o travamento econômico do país que não consegue sair da inércia justamente pelo clima de insegurança e imprevisibilidade que Brasília criou no país.
A pressão aumenta. Aliados do governo Temer parecem não mais sem importar com a permanência da atual gestão federal. Um ano depois do impeachment pouco se avançou dentro das necessidades nacionais. Na outra ponta do processo político, Lula dispara nas pesquisas. Passou a ser o grande favorito para a eleição de 2018. Temer e seu governo impopular e cambaleante passaram a serem o principal cabo eleitoral do ex-presidente petista.
Talvez, por isso, Michel perde apoio e já parece não ser essencial a sua permanência. Sua saída e o processo de escolha do novo mandatário do país de forma indireta, começa a agradar os setores mais conservadores e elitizados do país. Por outro lado, a oposição e setores progressistas, buscam a realização de novas eleições, ou seja, o povo, a sociedade, escolheriam seus novos representantes e não um Congresso Nacional sem moral.
Pelo visto, a esquizofrenia institucional alimentada pela crise política não terá fim, enquanto os seus atores continuarem em seus respectivos lugares, salve-se poucas exceções. Conforme afirmado há um ano, o impeachment e a quebra do regime democrático não eram o fim da crise, e sim o seu começo. Brasília está afundando o Brasil.
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