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terça-feira, 23 de abril de 2013

Parauapebas e Marabá estão à deriva na área de infraestrutura urbana


A riqueza teórica, expressa pelo Produto Interno Bruto (PIB), parece
distante e sem efeito sobre a realidade das cidades de Parauapebas e Marabá
Nos primeiros 100 dias deste ano, R$ 442 milhões
navegaram na conta-corrente da Prefeitura de
Parauapebas; enquanto isso, população vai
afundando

     Em Marabá, basta uma chuva para a realidade 
da imagem vir à tona. Parece cômico, mas é trágico


Em Parauapebas é assim: esgoto toma conta
de metade da cidade; em sociedades evoluídas,
isso é caso de saúde pública



Lixo e sujeira tomam conta das principais
cidades do interior paraense; procuram-se
voluntários para fazer a coleta

POCILGAS URBANAS 
Parauapebas é esgotão a céu aberto e Marabá, um lamaçal, aponta pesquisa 

Se hoje fosse possível medir ruas, literalmente, nas cidades de Parauapebas e Marabá, o aventureiro teria o maior desgosto ao final da empreitada. Na metade das vias de Parauapebas, ele teria de dar muitos pulos para livrar-se de afogar no esgoto que corre a céu aberto na periferia – e até em bairros centrais – da sede do segundo município mais rico do Pará e o 33º do país. Em muitas ruas de Marabá, esse mesmo aventureiro teria de se virar nos trinta para não se encharcar de lama ou poeira, conforme o período do ano, dada a quantidade de ruas sem pavimentação no segundo município de maior movimento comercial do Pará e que sedia a área econômica mais dinâmica do Norte do país. 

Os aventureiros que ousaram fazer isso dois anos e meio atrás, por ocasião do censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), praticamente se lascaram, mas não deixaram barato e coletaram dados que exibem, atualmente, o panorama vexatório em que se encontram duas das principais cidades do interior da Amazônia. Esses aventureiros, chamados recenseadores, levantaram informações, rua por rua, durante três meses, entre agosto e novembro de 2010. 

A propósito, os recenseadores paraenses passaram o maior perrengue diante das condições praticamente inóspitas de alguns logradouros de Parauapebas e Marabá. 

Já os profissionais que trabalharam no Estado de São Paulo, por exemplo, praticamente não tiveram problemas em coletar dados, visto que as condições de infraestrutura em cidades de mesmo porte de lá deixam tímida qualquer sede urbana do Pará. E olha que a maioria dos municípios paulistas nem de muito longe vê correr o dinheiro que ronda Parauapebas e Marabá. 
Por outro lado, as cidades do interior paulista – e do Sudeste, de maneira geral – não deixam de desenvolvidas só porque não têm o cofre abarrotado. O diferencial, então, está na gestão, na forma como os municípios de que são sedes vêm sendo ou se encontram administrados. 

VAMOS AOS NÚMEROS 

Quando o censo acabou, no final de 2010, os dados começaram a ser tabulados e tornaram-se microdados. Ao longo de 2012, o "sumo" foi sendo divulgado, e os balanços municipais são geralmente difíceis de localizar no emaranhado de números do IBGE. Ainda assim, com certo traquejo, dá para escarafunchar os dados de interesse, que fazem parte da pesquisa denominada "Características Urbanísticas do Entorno dos Domicílios". 

De Marabá vêm as bombas: a cidade é uma terra de perdidos, sem ermo e imersa a um lamaçal doido. Os números do Censo 2010 revelam que, das 48.704 residências em áreas regularizadas na sede urbana, apenas 16,28% têm alguma identificação. O problema é maior na Nova Marabá, onde as chamadas folhas – que equivalem a bairros – confundem-se entre uma rua e outra e deixam qualquer cristão perdido. Em Parauapebas, a situação é melhor, haja vista 62,5% das vias urbanas estarem identificadas. Mas que ninguém se iluda: a periferia, que cresce como formigueiro humano, tem o mesmo endereço de onde "Judas perdeu as botas". 

Em Marabá, anda-se a ermo, uma vez que somente 22,33% das ruas têm alguma calçada que a população possa utilizar como "valha-me, Deus". É uma coisa de louco ver como a população está vulnerável a acidentes de todo azar na cidade mais movimentada do interior do Pará e que, por essas e outras, faz de Marabá um dos municípios do Norte com mais alta taxa de mortes no trânsito. No ano em que o censo acontecia, 106 pessoas perderam a vida no tráfego bestial de Marabá, onde, em cada grupo de 100 mil habitantes, no mínimo 45 vão ser atropelados e espatifados fatalmente pela loucura de algum condutor que, não raro, colhe transeunte que está no meio da rua da amargura – já que não tem calçada. Entre 5.570 municípios brasileiros, Marabá é o 187º de trânsito mais mortal, de acordo com o "Mapa da Violência 2012 – Acidentes de Trânsito". 

Parauapebas leva vantagem pelo fato de os moradores da cidade terem um pouco mais de extensão de calçadas. Ao todo, 48,22% das ruas da cidade têm algum pedaço de chão funcionando "como se fosse". Mas, para um município de população pequena e que é tão rico, o qual chegou a movimentar R$ 97 bilhões em operações minerais entre 1997 e 2012, isso é insuficiente e até motivo de vergonha. Além disso, as estatísticas não dão trégua: a falta de calçada contribui para que Parauapebas tenha taxa de mortes no trânsito de 22,7 para cada grupo de 100 mil pessoas. Em 2010, 35 habitantes deram "tchau" deste mundo por causa dessas e outras situações. 

Marabá leva a pior, em relação a Parauapebas, também, no tocante à falta de pavimentação das vias urbanas. Isso porque, enquanto Parauapebas tem 63,54% das ruas asfaltadas – o que já não é grande coisa para uma cidade que não para de crescer –, Marabá contenta-se com apenas 33,67% de ruas pavimentadas. Parece mentira, mas apenas uma de cada três casas fica em rua asfaltada. E nem é preciso ir muito longe: no centro comercial da Nova Marabá, lá pelas bandas das folhas 22 e 27, são encontradas ruas de chão batido. Em Parauapebas, a periferia – que congrega oito favelas em plena expansão – concentra as ruas de terra. Mas é possível se deparar com elas em bairros antigos, como Rio Verde e Da Paz, ou no Liberdade, no Caetanópolis e nos "jardins" que não param de florescer. Ademais, que seja feita vista grossa ao fato de que o asfalto que um dia foi está a ruir, representando um perigo constante a condutores.

"AS CHEIROSAS" 
Parauapebas e Marabá têm "aroma" de esgotamento sanitário 

Os gargalos de Parauapebas se chamam esgotamento sanitário e água encanda, em relação aos quais Marabá encontra-se em situação ligeiramente mais confortável. O IBGE apontou que 53,83% das casas de Parauapebas convivem com esgoto a céu aberto. Sim, metade da cidade está atirada à imundície, com esgoto correndo de qualquer maneira, sem vergonha ou pudor. Isso, na prática, obriga 20.812 lares onde vivem 74.755 pessoas a sentir o "suave aroma" de podridão de esgoto todo santo dia. 

A água encanada, em cuja profecia a população parauapebense nem acredita mais dadas as constantes interrupções no fornecimento, virou motivo de piada – sem sal, ingrata e desconfortável – porque falta quase sempre e constantemente. Pesquisas feitas no Rio Parauapebas, que abastece a cidade, apontam que o nível do lençol freático está comprometido e que, num futuro não muito distante, a cidade terá cenário nordestino. As desculpas de "peça do sistema" e "problema na tubulação" não convencem mais nem criancinhas. 

Em Marabá, a taxa de esgoto a céu aberto à porta das casas é levemente menor, 49,36%, mas os números absolutos confinam mais casas (23.751) e pessoas (92.938) à fedentina ingrata, tendo em vista que a cidade de Marabá é maior que a de Parauapebas. Em 2013, a sede urbana de Marabá chegou a 200 mil habitantes e era a 134ª maior cidade do Brasil, enquanto Parauapebas marca 155 mil residente e é a 174ª maior, com base nos dados de crescimento populacional definidos pelo IBGE. 

É impressionante como Parauapebas e Marabá não se prepararam para o crescimento e continuam inertes a isso. Em Marabá, se os recenseadores do IBGE passassem hoje, "contemplariam" crateras enormes e avassaladores nas principais vias da cidade, inclusive na jamais inaugurada obra multimilionária do trecho urbano duplicado da Rodovia Transamazônica (BR-230), onde uma das artérias laterais está apta a engolir um carro. Em Parauapebas, se os recenseadores do IBGE passassem hoje, sensibilizar-se-iam com a situação de penúria e sujeira em que se encontra a cidade e oferecer-se-iam, voluntariamente, para trabalhar na tão multimilionária quanto incompetente empresa que faz a limpeza – ou mais sujeira? – urbana. Está instalado o caos. 

Nota-se que ambos os municípios não se prepararam, também, para ser a "meca" em que se transformaram, atraindo gente de todos os cantos do país, em razão de oportunidades anunciadas, algumas das quais jamais cumpridas. Na lista de todos os 5.570 municípios brasileiros em 2013, Parauapebas é o 53º em recepção de migrantes. São 10.814 pessoas que tomam o rumo do município anualmente. Marabá é o 77º na mesma ordem, com 8.269 migrantes por ano. Na restrição à Região Norte, pouquíssimos municípios – leia-se: Manaus, Belém, Palmas e Ananindeua – recebem tanta gente nova. 

O que se observa, então, é a falta de traquejo de sucessivas administrações para lidar com o "crescimento", tanto demográfico quanto das misérias infraestruturais, estas as quais, consequentemente, vêm na mala. 

E não adianta usar a idade do município para justificar um suposto atraso ou excesso de desenvolvimento porque é conversa fiada. Marabá é um município antigo, com 100 anos e que, hoje, dá graças a Deus por ter parido cinco outros, que geraram 12, que deram à luz oito. Não fosse isso, Marabá seria um monstrego de tamanho descomunal com problemas crônicos e deslocalizados – ainda mais. Parauapebas está no auge de seu desempenho sexual, às vésperas de seus 25 anos, e a reproduzir problemas de um passado recente e presente futuro. Entre 25 e 100, a diferença reside no fato de como se está administrando os problemas que surgem e que vão surgir sempre. 

Algumas cidades do Nordeste e até do sacrificado e debochado – por nós próprios, paraenses – Estado do Maranhão estão em condições infraestruturais bem melhores que as do Pará. Conclui-se, assim, que não é preciso uma fortuna para fazer a diferença. É preciso querer fazer. É preciso saber fazer. E é preciso fazer fazer. Do jeito como está, as principais cidades paraenses vão tornar-se uma pocilga logo logo. E nenhuma delas merece o que lhes sobra.

Um comentário:

  1. O Pará está entre os cinco estados brasileiros com o pior IDH.Primeiro, nossos políticos põem asfalto nas ruas, sem rede de esgoto. Depois voltam quebrando o asfalto para pôr a tubulação da água. Rede de esgoto? Ninguém vê, está sob a terra. Portanto, primeiro asfalto, nem que quebre tudo em menos de seis meses.É a cara da política brasileira!!!!. E nós, assistimos tudo passivamente!!!!

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