Raimundo Moura |
FÉLIX
RIBEIRO MARTINS, mais
conhecido como FELIM, embora sua
certidão de nascimento registre o seu assento em 26/06/1935, no município de
Marabá, ele nasceu no município de Araguatins, na época Estado de Goiás, hoje Tocantins, e estima-se que tenha muito mais anos do que o declarado, pois seu
documento original foi queimado durante a Guerrilha do Araguaia.
Félix era o 3º filho do casal Pedro Martins dos Santos e Salustiana Ribeiro Souza. Seu pai morreu quando ele tinha apenas 08 anos de idade, motivo que o levou a trabalhar cedo com os outros três irmãos para poder garantir o sustento da família que vivia basicamente da agricultura e da pecuária. Seus irmãos eram Raimunda Ribeiro Martins, conhecida como Mundica, José Ribeiro Martins e Davi Ribeiro Martins.
Alguns anos depois a sua
mãe, Salustiana Ribeiro Souza, casou-se com Raimundo Paraguaia de Freitas,
pequeno fazendeiro que possuía 600 cabeças de gado. Este passou a ser o pai de
Félix e de seus demais irmãos.
Mas não demoraria muito
para Félix “caí no trecho” em busca de sua independência financeira. Em meados
de 1953, ele segue o exemplo de seu irmão mais velho e viaja para o município
de Xambioá para trabalhar no garimpo do Chiqueirão. Em Xambioá, numa festa de
Cabaré, ele conheceu Maria Pereira Moura, mais conhecida como Maria Moura, que
nos dizeres dele era uma “jovem boneca” que perdera a mãe durante o seu parto e
estava iniciando a vida de mulher, a exemplo de outras mulheres retirantes da
época.
Maria Moura havia vindo de
Imperatriz - Estado do Maranhão, fugindo de um casamento arrumado pelas freiras
no convento onde morava desde criança. O Pai de Maria Moura era Estevam Moura,
quem lhe entregou sob os cuidados das freiras no convento de Imperatriz, depois
que perdeu a esposa durante o parto que deu a luz a Maria Moura. Como não tinha
condições de criar a filha, pois além de culpá-la pela perda da esposa, ainda
precisava trabalhar de lavrador numa terra em Jatobá/MA, deixou-a no convento.
No ano de 1957, depois de
passar em Araguatins para deixar dinheiro para sua Mãe, Félix Martins viajou de
barco para o município de Marabá, Estado do Pará, onde passou a viver por quase
toda a vida. Desde então perdeu contato com a sua mãe e demais familiares. Ao
chegar em Marabá teve notícias de que Maria Moura estava levando a vida de
mulher solteira na rua “Canela Fina”, velha Marabá e já tinha uma “penca de
filhos”.
Desde então Félix passou a
trabalhar muito. Foi mariscador de diamante nos Rios Tocantins e Itacaiúnas,
trabalhou como castanheiro e tropeiro no polígono dos castanhais e peão de
fazenda por mais de 40 anos na região. Nesta época Marabá liderava na produção
de castanha-do-Pará, matéria prima no auge do mercado da economia nacional e
mundial.
Não demoraria muito para
Félix juntar-se com Maria Moura. Segundo ele, quando foi para se juntar com
Maria, ela o alertou: “quem ama o cão deve
amar o balcão”, informando-o que tinha uma “penca de filhos” e se ele
estaria disposto a assumi-la teria que aceitar seus filhos, pois já havia dado
alguns filhos por falta de condições de criá-los e não estava mais disposta a
dar mais nenhum filho. Como Félix era um homem muito generoso e sempre foi
apaixonado por Maria Moura, resolveu aceitar o desafio e levou ela e seus
filhos de avião para uma Fazenda, pois Maria havia sofrido perdas materiais com
as cheias dos Rios Tocantins e Itacaiúnas e por isso não teve condições de
ficar na cidade.
Com a comercialização da
castanha em alta e as porções de terras devolutas em abundância, Félix adentrou
as matas subindo o Rio Itacaiúnas até chegar ao Rio Parauapebas em busca do
“ouro branco”, denominação dada a Castanha-do-Pará no auge de sua
comercialização. Durante a coleta da castanha, Félix aproveitava para mariscar
algumas peles de onça pintada e faturar algum dinheiro a mais. Ele dizia que
durante as suas andanças nas matas sempre “esbarrava” com índios, mas que nunca
foi atacado por eles e se fosse estava bem preparado com a sua espingarda e um
bornal cheio de cartuchos.
Nessa ocasião ele se
instalou a margem do Garimpo de Serra Pelada onde passou a viver como lavrador
num pedaço de terra devoluta onde se localiza hoje uma das fazendas de uma
família de goianos que despertaram cobiça pela região e valeu-se de influências
políticas para obter junto ao governo da ditadura a apropriação de uma vasta
área de terras devolutas, inclusive esta que Félix vinha habitando e
trabalhando.
Desta forma se
intensificou no Pará, especialmente na região de Carajás, a formação de grandes
latifúndios e o surgimento de oligarquias. Como Félix não tinha grandes
ambições e não era alfabetizado, reconheceu os novos donos das terras que até
então não tinham donos e passou a trabalhar para eles à custa de alguns
trocados e mantimentos, sem ter consciência do regime de exploração e escravidão
em que estava sendo submetido.
Félix teve um único filho
com Maria Moura em 1978. Juntos passaram a viver as custa do próprio trabalho,
garantindo estudo e o mínimo para o sustento não somente de seu filho, como
também dos outros filhos de sua mulher. Félix perdeu Maria Moura em 1999 e
quatorze anos depois, em 12 de novembro de 2013, faleceu ao lado de seu filho,
com quem viveu seus últimos anos no município de Parauapebas. A pedido, seu
“Felim” foi sepultado no Cemitério da Saudade, município de Marabá, ao lado de
sua amada Maria Moura, deixando o filho Raimundo Moura e um casal de netos,
João Mateus e Maria Vitória. Até então a história de mais este castanheiro era
anônima, mas que agora fica registrada para as futuras gerações.
professor Rainundo moura , parabens por nos dar a oportunidade de ler um belo texto, obrigado por contar a Historia real da maioria dos HOMENS e MULHERES desta regiao do pai's,mesmo que falando especialmente de seus PAIS. obrigado.
ResponderExcluirHistória muito bonita. Me emocionei. Raimundo, te admiro muito!
ResponderExcluirProfessor Raimundo, você. como tantos primogenitos de desbravadores dessa região. deveria recorrer à justiça em busca de um resgate mais do que justo. O reconhecimento, por parde do Estado Brasileiro dos direitos que um cidadão com seu Felix, tem. Assim, como são reconhecidos os Soldados da Borracha devem ser reconhecidos os Soldados da Castanha do Pará. Parabéns, por, trazer a luz do dia a mais pura realidade vivida pelo seu saudoso Pai. Abs
ResponderExcluirRaimundo, é só assim que nós conhecemos os verdadeiros heróis e heroínas deste país, desta região tão marcada por conflitos, violência e injustiças.
ResponderExcluirParabéns por trazer à tona esta história que é a história de tantos Félix's e Marias que tanto contribuíram para o nosso crecscimento e desenvolvimento, mas continuam no anonimato e a maioria morrendo como indigente.
Seu Felim teve a sorte de ser amparado na sua velhice e até o fim dos seus dias e ainda ser sepultado com dignidade; mas quantos outros terão a mesma sorte? Descanse em paz seu Felim. (Zelão).