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sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Tudo é possível, até Lula virar o jogo em Marabá - Fabiano Rodrigues



Como dito no artigo anterior, os dados numéricos evidentemente deram uma vitória para Bolsonaro em Marabá neste primeiro turno das eleições de 2022. Mas tal resultado é produto de todo um aparato de campanha que se iniciou até mesmo antes de 2018. Nesse intervalo, o próprio Bolsonaro esteve por aqui em duas ocasiões, o que demonstra a princípio a força de sua base política no município.

Após a eleição de 2018, o atual presidente consolidou uma base de apoio e política importante no município, que em todo esse tempo se manteve fortemente mobilizada e com um aparato econômico poderoso.

Nesses 4 anos não faltaram reiteradas campanhas de apoio ao presidente haja vistas as manifestações de ataques ao Supremo Tribunal Federal, sejam as manifestações de ataques ao sistema eleitoral, sejam manifestações da sociedade civil como sindicatos patronais e entidades empresariais e do agronegócio que volta e meia espalhavam dezenas de outdoors pela cidade manifestando apoio ao presidente.

Inclusive na vinda do presidente ao município patrocinaram um churrasco gigante no parque de exposição agropecuário do município. Também nunca deixaram de existir campanhas que distribuíam adesivos para veículos que circulam pela cidade com mensagens de apoio a Jair Bolsonaro.

Por outro lado, também ocorreram reiterados ataques à manifestações de oposição ao presidente como a pichação e depredação de outdoors espalhados pela cidade pelo Sindicato do Professores da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará que denunciavam ataques de Bolsonaro a setores da ciência, da tecnologia e da educação, além da intimidação e depredação de uma manifestação de movimentos sociais que fincaram cruzes em um canteiro no trevo de ligação dos três principais núcleos urbanos da cidade simbolizando as vítimas da pandemia da covid-19.

Um outro fator importante em Marabá é a forte presença de instituições militares e de forças de segurança pública, que em termos proporcionais para municípios com o porte de Marabá é bastante significativo.

Em 2021, o Exército brasileiro contava com um contingente efetivo de aproximadamente 2400 pessoas, dois batalhões da Polícia Militar e comandos regionais, efetivos também do Corpo de Bombeiro Militar, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Penal e da Polícia Civil e superintendência regional.

Claro que nem todos os membros dessas forças de segurança são simpatizantes ou eleitores do atual presidente, mas existem importantes movimentos de apoio dessas instituições, inclusive um dos deputados estaduais eleitos e que tem domicilio eleitoral em Marabá é de uma dessas instituições, além de vereadores da atual legislatura que também são das forças de segurança.

Assim como também entidades religiosas que certamente são importantes bases de apoio do atual presidente, tendo também vereadores que são pastores ou membros orgânicos dessas instituições, sendo inclusive recentemente candidatos a deputado estadual e um deles obtendo uma expressiva votação. Ou seja, o que não falta para o atual presidente em Marabá são importantes e poderosas bases de apoio.

Em 2018, Bolsonaro obteve em Marabá 57.394 votos, o que representou 49,08% dos votos válidos no primeiro turno e 61.220 votos (55,91%) no segundo turno. Naquele ano, o oponente direto era Fernando Haddad (PT) que teve no primeiro turno 40.736 votos (34,83%) no primeiro turno e 48.278 votos (44,09%) – observa-se que, de um turno para o outro, o petista teve um crescimento de mais de 10%.

Em 2022, com uma base consolidada na eleição de primeiro turno, Bolsonaro teve a seu serviço todo esse aparato e com inúmeros candidatos a outros cargos o apoiando publicamente. Por outro lado, dos candidatos a deputado estadual e a deputado federal com maior expressividade nas urnas que manifestaram publicamente apoio Lula foram apenas Dirceu ten Caten e Airton Faleiro, eleitos respectivamente deputado estadual e federal pelo PT.

Passado essa etapa das eleições 2022, Bolsonaro obteve neste primeiro turno 68.387 votos (49,03%) e Lula, 62.464 (44,78%), uma diferença de pouco mais de 4%.

Essa diferença foi bastante estreitada em relação as diferenças de 2018, quando no primeiro turno foi na casa de 14,25% e no segundo turno, 11,82%..

Com todos os ataques ao PT, a prisão do ex-presidente Lula, com todas as situações que foram bastante desfavoráveis ao campo popular e aos movimentos sociais historicamente ligados ao campo progressista e democrático, somadas ao fortalecimento do bolsonarismo no município, isso impactou diretamente na campanha a favor do ex-presidente Lula no primeiro turno de 2022.

Eu pelo menos não consegui ver efetivamente e organicamente uma campanha ampla e mais organizada. Houve movimentações importantes dos comitês dos candidatos que o apoiaram, além de ações de movimentos sociais e partidos que realizaram algumas manifestações de campanha.

Imperava e ainda impera o medo da violência política e da hostilidade de opositores, a exemplo disso é mínimo o número de veículos circulando em Marabá com algum adesivo de Lula, é mínimo o número de pessoas andando nas ruas com vestimentas ou adereços que manifestam apoio a Lula, ao PT, ou outro partido de esquerda ou da coligação do ex-presidente.

Mesmo assim, Lula obteve uma votação expressiva, diminuindo a desvantagem de 2018. Avaliações informais projetavam que o Bolsonaro venceria em Marabá com pelo menos 10 mil votos de diferença, haja vista todo o seu aparato político e econômico. Mas esse número foi de apenas 5.923 votos.

Ao que parece esse dado preocupa bastante seus militantes e simpatizantes, tanto que nos meios de comunicação local a única informação repassada desde o dia da votação é que Bolsonaro havia vencido, mas sem apresentarem detalhes numéricos e analíticos, sem sequer mencionarem a votação do ex-presidente Lula.

Isso tem trazido bastante esperança à militância do ex-presidente Lula em Marabá para o segundo turno. Desde domingo (2), tem ocorrido importantes mobilizações de movimentos sociais, partidos políticos, associações e sindicatos a fim de construir plenárias, comitês e programações de campanha a favor do ex-presidente neste segundo turno – como já dito anteriormente esse elemento foi bastante disperso, pontual e precário durante o primeiro turno.

Outro fator que pode favorecer a votação do ex-presidente Lula em Marabá no segundo turno é apoio do governador Helder Barbalho, reeleito com mais de 70% dos votos válidos, e de todo o aparato político do diretório estadual MDB, além do apoio de outros partidos, como o PDT.

Se esses apoios, tanto da sociedade civil quanto dos partidos políticos, forem efetivamente concretizados, as chances da votação de Lula em Marabá superar a votação de Bolsonaro no segundo turno são enormes.

Tendo em vista que tanto em Marabá quanto em municípios vizinhos houve a eleição de deputados estaduais e federais do MDB, PT e PDT e que dispunham de um aparato de campanha e uma base eleitoral muito grande, inclusive o candidato a deputado estadual mais votado do estado que é do MDB tem domicílio em Marabá, além de outros candidatos bem votados e com importantes bases políticas que também são desses partidos.

Contudo, o jogo acaba somente após o final. Ao mesmo tempo que é um momento de esperança, também é um momento de cautela, pois nunca se sabe o que a base de apoio do atual presidente é capaz de fazer e desfazer para vencer. Será preciso acima de tudo muita mobilização e muita luta.

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