O mapa do Estado de Exceção, por Luis Nassif (AQUI - CLIQUE)
Por Luis Nassif - 27/02/2019
Hoje, o Tribunal de Justiça de São Paulo anulou a condenação imposta pelo juiz Leonardo Valente Barreiros e pelo procurador estadual Marcelo Mendroni ao ex-prefeito Fernando Haddad. Constatou que como o presidente da UTC foi prejudicado em seus interesses pelo então prefeito Haddad, sua delação premiada era vingança.
Era óbvio desde o começo. A gráfica, que teria recebido o dinheiro, garantira que não havia trabalhado para Haddad. Mas o objetivo das autoridades era criar fatos políticos. E criou.
Ao mesmo tempo, com uma sincronização típica de combinações pelo WhatsApp, juízes eleitorais de diversos estados encetaram uma ofensiva contra 17 universidades, proibindo-as de qualquer debate público. Os campis foram invadidos por Polícias Militares agressivas.
E não apenas isso. Nos últimos anos, o Estado de Exceção se apresentou de diversas maneiras.
Na Universidade Federal de Santa Catarina, levando um ex-reitor ao suicídio.
Na Universidade Federal de Minas Gerais, humilhando reitor e diretores.
Os abusos foram generalizados. A Lava Jato do Rio de Janeiro, sem nenhuma base fática, ordenou a condução coercitiva de quarenta funcionários do BNDES.
O grupo não tem grande respeito pelo juiz Marcelo Bretas. Mas este concede tudo o que é pedido. Convalida todos os absurdos. Graças a isso, conseguiram uma ordem para fechar o Instituto Lula.
De criminalizar a licitação FX, totalmente conduzida pela Aeronáutica.
De ordenar a apreensão do passaporte de Lula, em um gesto gratuito de autoritarismo.
E teve muito mais, antes que a imprensa abrisse os olhos para o monstro que ajudara a criar. O juiz Ademar Vasconcellos, na Vara de Execuções de Brasília, quase foi responsável pela morte de José Genoino. Tenho ido para a Papuda após uma operação delicada, Ademar proibiu que fosse levado para uma clínica, quando sobreveio grave crise cardíaca. Genoino foi salvo por uma moça corajosa, que o transportou clandestinamente em seu carro.
Em São Paulo, a juíza Cecilia Pinheiro da Fonseca e o promotor Fernando Albuquerque indiciaram jovens, rapazes e moças, alvos de um espião militar. E nem se deram ao trabalho de questionar o Segundo Exército por uma espionagem feita sem autorização civil.
O juiz Jailton Tontini decidiu impor multas a quem participasse de passeatas.
E o delegado Adriano Chohfi invadiu a Escola Florestan Fernandes, ameaçando velhos, mulheres e crianças.
No Rio, o delegado federal Igor de Paulo promovia o episódio dantesco de condução do ex-governador Sérgio Cabral algemado nos pés e nas mãos.
O juiz Alex Costa de Oliveira ordenou que se cortasse a água de uma escola ocupada por alunos.
Ou o vexame pré-Damares da juiza Carla Fullin, de Campinas, intimando um cientista de renome internacional por sua participação em um seminário sobre maconha.
Deu para entender porque Jair Bolsonaro não é um fenômeno isolado. Os bravos juízes e procuradores ajudaram a adubar o solo fértil, de onde brotaram Jair e os três filhos, Damares, Veléz, Ernesto, Ricardo Salles.
Nesses momentos de desequilíbrio, cada qual trata de administrar seus nacos de poder, sem um pingo de preocupação com a imagem da sua corporação. E sem um pingo de visão de futuro. Quando esta maré insana refluir, suas arbitrariedades ficaram boiano, como dejetos que aparecem na praia, em tempos de maré baixa.
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