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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013


Formandos da UFPA publicam artigo sobre a importância da CFEM para o município de Parauapebas

Leia o artigo completo:
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A Importância da Compensação Financeira pela Exploração Mineral no Município de Parauapebas (PA)

ECONOMIA MINERAL
Parauapebas arrecadou R$ 427 milhões em CFEM em 2012, aponta artigo

Quem pensou que seria impossível traduzir a riqueza que reluz das minas de Carajás, em Parauapebas, em conhecimento científico enganou-se. Dois formandos em Engenharia de Minas e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Pará (UFPA), passaram 2012 debruçados sobre calhamaços de relatórios e a fuçar base de dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social do Pará (Idesp) para elaborar o artigo “A Importância da Compensação Financeira pela Exploração Mineral no Município de Parauapebas (PA)”, uma produção de 35 páginas que está ganhando corpo de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e que analisa o desempenho socioeconômico da “Capital do Minério”, sob a égide dos royalties recebidos.

Os quase engenheiros André Santos e Lucas Furtado utilizaram metodologia de autores conceituados e, ainda assim, ampliaram as técnicas de comparação em relação a trabalhos em que se inspiraram. A produção é inédita e utiliza os dados mais atualizados possíveis.

De acordo com André Santos, que também é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia (PDTSA), Parauapebas é um laboratório ainda adormecido em nível de ciência e pesquisa, mas tem alguma notoriedade por conta de estar assentado sobre a maior província mineral a céu aberto do globo.

“Existem poucas pesquisas acadêmicas relacionadas a Parauapebas. No banco de teses e no portal de periódicos do Capes [Centro de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior], você encontra não mais que 60 produções científicas”, informa Santos. “A título de comparação, Araguaína, no Tocantins, que tem o mesmo porte populacional de Parauapebas, é inspiração de 90 pesquisas. Ocorre que lá a base científica está em adiantado processo de consolidação, enquanto em Parauapebas não há sequer um campus universitário”, compara.

MINA DE DINHEIRO

Segundo Lucas Furtado, a grande novidade da pesquisa é que ela vai além de dizer que a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) recebida por Parauapebas é elevada. A CFEM, que na linguagem técnico-jurídica da economia mineral é o royalty recebido pelo município em razão do que lhe é explorado em minérios, recebe tratamento humanizado e social no artigo.

“Em 2012, Parauapebas bateu recorde em arrecadação de CFEM. Foram R$ 427 milhões até o último dia do ano. É um poder de fogo financeiro equivalente ao de Nova Lima, Itabira e Mariana juntos, os três maiores arrecadadores de CFEM em Minas Gerais e, historicamente, no país”, destaca. Ele lembra que a receita de Parauapebas em 2011 foi de R$ 978 milhões, 88% a mais que no ano anterior, 2010, quando o município fechou com R$ 519 milhões no orçamento.

Da receita de 2011, ao menos R$ 234 milhões eram de cota-parte da CFEM. O cálculo da cota-parte é simples: de todo o valor arrecadado em compensação financeira, 65% são devolvidos ao município onde a mineração atua e o restante, 35%, repartido entre o Estado a que pertença o município (23%) e a União (12%).

Sendo assim, enquanto em 2011 entraram no caixa da Prefeitura de Parauapebas R$ 234 milhões, ano passado, 2012, entraram R$ 283 milhões – dos R$ 427 milhões totais arrecadados. A previsão é de que este ano, só em royalties atrasados, a mineradora Vale compense Parauapebas em R$ 700 milhões, de um total de R$ 1,1 bilhão que ela deve, pela exploração em solo municipal entre 1991 e 2009. A Vale não confirma o valor, mas desde outubro de 2012 deixou provisionada a quantia para, em caso de perda judicial, devolver ao município.
  
RICO E POBRE
Na rica ‘Capital do Minério’, 14 mil são favelados e 6,7% passam fome

André Santos afirma que a receita orçamentária municipal de 2013 – composta por diversas fontes de recursos – vai romper R$ 1 bilhão, sem contar o “a mais” que a Vale pode depositar em caixa, e contextualiza a força da cota-parte de CFEM recebida ano passado, os R$ 283 milhões. Segundo o estudante, se o valor fosse realmente aplicado em obras públicas, seria suficiente para construir mais de 5.500 casas populares ao custo de R$ 50 mil cada; asfaltar 400 quilômetros de vias urbanas, com cada quilômetro de asfalto a R$ 700 mil; construir ao menos 200 escolas públicas nos moldes das últimas erguidas na cidade, ao custo de R$ 1,4 milhão; e entregar à sociedade meia dúzia de hospitais do porte do municipal, ao custo de R$ 45 milhões, cujas obras caducaram e não foram concluídas.
“É fato que Parauapebas seja um município rico, mas o importante é saber para onde vai essa riqueza e, mais que isso, como tem se dado a distribuição dessa riqueza”, diz Santos. “Por um lado, você tem um Parauapebas que pulou da 84ª para a 33ª colocação nacional em geração de riquezas total, entre 2009 e 2010; e onde a classe média compra de 800 a 1.000 carros por mês. No Estado, só a classe média de Belém emplaca mais carros. Por outro, tem um Parauapebas onde os 20% mais ricos são 21 vezes mais abastados que os 20% mais pobres; onde 14,47% da população passam o mês com menos da metade de um salário mínimo; onde 14 mil habitantes de oito bairros são considerados favelados; e onde, numa escala de 0 a 10 em nível de desenvolvimento municipal, sua nota é 4,6”, continua o futuro engenheiro.
Furtado nota que, embora a CFEM não proporcione a elevação do desenvolvimento municipal na prática como devesse, ela afoita o recolhimento local de ICMS, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, que este ano deve atingir R$ 402 milhões, conforme prevê o fisco estadual. “Belém, que é quase dez vezes mais populoso que Parauapebas, e vai arrecadar menos: R$ 366 milhões. O poder do caixa daqui deixa tímida até a capital”, ironiza.

PRECARIZAÇÃO
Santos, por seu turno, analisa que existe um fosso de desenvolvimento, em nível local, no confronto entre riquezas e os serviços sociais básicos. Segundo ele, entre 2000 e 2012, a educação foi o serviço público que mais avançou nos indicadores de desenvolvimento, seguida da renda e da expectativa de vida, enquanto a saúde piorou em ritmo inversamente proporcional e a infraestrutura segue no mesmo cometa decadente.

“A taxa de mortalidade é, hoje, 17,4 para cada mil crianças nascidas vivas. Já foi menor: em 1996, era 10,4. Ainda, há crianças com até 2 anos desnutridas e 6,7% da população vivem em estado de indigência absoluta. É só andar pela periferia de Parauapebas, que se verticaliza irregularmente morro acima, para constatar que 36% da cidade não têm asfalto; que o asfalto que há está a ruir em muitos trechos; e que o esgoto corre a céu aberto em 53,51% das ruas, obrigando 74.755 habitantes a se acondicionar a eles”, ilustra. “Tudo isso na 4ª maior praça financeira da Amazônia.”

Os formandos denunciam que, em 2004, mineradoras e políticos fizeram a população acreditar que as reservas de minério de ferro, sustentáculo da economia local, teriam vida-útil de 450 anos. “Só bobo para cair nessa esparrela. Os números à mostra, de órgãos oficiais, apontam que, no atual ritmo de exploração desse minério, a economia de Parauapebas pode entrar em colapso a partir de 2036, já que as reservas atuais têm expectativa de vida de tão somente 23 anos e meio. E aí, como vai ser para as próximas gerações?”, questionam os estudantes.

No artigo, eles fazem leitura crítica e atualizada de diversos indicadores oficiais existentes para medir o desenvolvimento municipal; apontam a necessidade de criação de uma Secretaria de Mineração para agregar valor e verticalizar, de forma sustentável, os recursos minerais; e concluem que é preciso pensar em formas de desenvolvimento alternativas para Parauapebas, a fim de que o município tenha condições de sobreviver para além da sombra da mineração e evite, futuramente, tragédias sociais de sequelas graves verificadas em outros lugares, como desemprego, empobrecimento das pessoas e da localidade, movimentos migratórios desordenados e surgimento de “cidades fantasmas”.

Em nota, os estudantes enaltecem a importância das reflexões críticas de blogs locais, como Zé Dudu e Sol do Carajás, e reportagens de jornais, como Hoje, Carajás o Jornal, O Regional, Correio do Pará e Folha de Parauapebas, alguns dos quais mencionados como “Referências de Consulta” no artigo.


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5 comentários:

  1. Super interessante essa postagem. Primeiro pela iniciativa dos autores do artigo, segunda pela sua relevância. Sugiro repassa-ló aos nossos governates (prefeito e vereadores). Nossos jovens universitários precisam de mais estimulo/incentivo, gostei muito mesmo!!! Parabéns Sol do Carajás!

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  2. Muito bom. Parabéns aos jovens estudantes. Que o trabalho seja enviado a cada um dos vereadores e ao nosso prefeito. Uma grande contribuição. Aliás, a ACIP e a CDL deveriam publicar o trabalho dos futuros engenheiros.

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  3. Os vergonhosos índices são, também, o resusltado do governo irresponsável do sr Darci/Margalho e outros. Cabe agora ao gestor atual deflagrar políticas públicas sérias ojetivando mudar a realidade de nosso município, pois recursos existem e sempre existiram, mas a ganância e a indiferença com desgraça alheia não importa a essas pessoas que saquearam o município.

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  4. Senhores,
    Sou economista, moro em SP e estava procurando algumas informações sobre a cidade de Parauapebas para um estudo encomendado. Esse trabalho tem de ser divulgado porque aqui no sudeste do país ha muita discriminação em relação ao norte. Ainda tem muito pesquisador achando que aí só tem bicho e mato, o que não confere com a realidade. Por outro lado esses numeros apontam que os recursos do municipio são realmente mal distribuidos. E uma vergonha não ter uma secretaria de mineração ai para gerir os recursos. Dá uma bela tese. Por coincidencia, encontrei o resumo desse artigo submetido a Exposibram na internet. Muito interessante.
    Salve!

    Marcos Albuquerque de O. Silva
    Estrategic's Consultoria/SP

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