Nunca fui admirador de Ciro Gomes! Aliás, sempre o considerei um “espertalhão” vaidoso e com um descontrolado “gosto pelo poder”. Qualquer poder!
Sua história partidária, para mim, é prova disso. Inicia-se no antigo PDS, sucessor da Arena, ambos apoiadores da ditadura militar, entre 1982 e 1983. Quando se apercebeu que a dita declinava, foi para o PMDB, que ascendia, onde ficou entre 1983 e 1990. Por estes partidos, foi eleito deputado estadual, duas vezes, sucessivamente.
Em 1988, apadrinhado pelo então governador do Ceará, Tasso Jereissati, ainda no PMDB, foi eleito prefeito de Fortaleza. Em 1990, de novo puxado pelo padrinho político, tornou-se seu sucessor no governo cearense, agora no PSDB, onde ficou até 1997. Em 1994, novamente por indicação do padrinho, ocupou o ministério da Fazenda no governo de Itamar Franco.
Em 1997, sem espaço no governo de Fernando Henrique Cardoso, migrou para PPS (atual, Cidadania) para se candidatar pela primeira vez a presidente da República, nas eleições de 1998, quando ficou na terceira posição, com 10% dos votos, atrás de Lula (2º) e do próprio FHC (reeleito). Pelo mesmo partido, foi novamente candidato à presidência da República, em 2002; desta vez, ficando na 4ª colocação, com 12%.
Entre 2003 e 2006, já no governo Lula, foi ministro da Integração Nacional. Mas, em 2005, filiou-se ao PSB, sendo eleito deputado federal em 2006. Na legislatura entre 2007 e 2010, Ciro Gomes foi cobrado por quase não apresentar projetos e ter sido um dos parlamentares mais faltosos. Em 2011, se tornou secretário de Saúde do Ceará, no governo de seu irmão Cid Gomes.
Depois de uma breve estada no PROS, entre 2013 e 2015, buscando um partido pra “chamar de seu”, Ciro Gomes entrou no PDT; partido pelo qual disputou as eleições de 2018, ficando novamente na 3ª posição, de novo com pouco mais de 12% dos votos.
Foi nesta campanha que Ciro Gomes deu um giro de 360° em seus discursos assumindo um tom cada vez mais antipetista e raivoso. Um bom exemplo pode ser visto quando de suas referências ao ex-presidente Lula.
Em 2018, antes da prisão de Lula, quando este se encontrava na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, São Bernardo (SP), Ciro Gomes propôs que o ex-presidente fugisse e se exilasse na Embaixada do Uruguai. Na ocasião, relatam testemunhas, se ofereceu para dirigir o carro que transportaria Lula.
Fez mais: sugeriu que, se Lula se recusasse a fugir, que fosse sequestrado e levado contra sua vontade. Esta, aliás, foi a primeira vez que me veio à cabeça a hipótese de que Ciro Gomes estava sob efeito de alguma droga: whisky ou fármaco, fique claro, por favor!
De lá pra cá, Ciro Gomes vem num crescente, referindo-se ao ex-presidente num tom cada vez mais rancoroso e acusatório e permanentemente o desqualificando como “o mais corrupto da história”. Seu mais recente ataque deu-se na convenção que o alçou a candidato a presidente pela quarta vez. Pois é, desta feita Ciro Gomes apelou até para o “anticomunismo”.
Em sua fala, além de um moralismo rasteiro, simplista e desqualificado, Ciro Gomes saiu-se com esta, literalmente: “Os dois [Lula e Bolsonaro] disputam entre si quem é o mais corrupto, quem é o mais autoritário, quem é o mais fascista ou quem é o mais comunista”. E completou: “Parece que nós estamos nas antecedências da Segunda Guerra Mundial.”
Como historiador, não consigo imaginar como alguém que se apresenta como de “esquerda” (pessoalmente, acho que a história partidária de Ciro Gomes já o contradiz) pode fazer tal comparação e pronunciar tamanha asneira.
E vindo de quem vem, de um político carreirista e sexagenário, só posso supor que o dito estava sobre efeito de “algum aditivo”, algo além do rancor político que há muito o alimenta: e seu fígado não lhe tem sido bom conselheiro!
__________________________________Leônidas Mendes Filho - historiador, professor e bacharel em Direito)
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